Estrada do Sabão, Brasilândia – 19/Ago/2017

      Uma palestra sobre a praça Luiza Mahin marcou a participação da Brasilândia na Jornada do Patrimônio 2017. O evento, realizado na própria praça, foi promovido pela Secretaria Municipal da Cultura, com apoio do Fórum em Defesa da Zona Noroeste. A iniciativa da ação foi do jornalista André Cintra. “Preenchi o formulário, expliquei o simbolismo da praça, mandei fotos e, enfim, fui selecionado”, relatou André.

  

André Cintra em primeiro plano, e participantes da palestra.André Cintra em primeiro plano, e participantes da palestra.

 

HISTÓRICO I – Apesar da chuva o público se animou a recordar um dos pontos mais simbólicos da região. “A Brasilândia era o bairro mais negro de São Paulo na década de 1980. Foi justamente aqui que conseguimos viabilizar, em 1985, uma inesquecível homenagem à heroína negra Luiza Mahin”, afirmou André.  Segundo o jornalista, dois nomes sobressaíram na luta pela criação da praça. De um lado, Eunice Rodrigues Barbosa, ativista do Coletivo das Mulheres Negras de São Paulo e moradora da região. De outro, Benedito Cintra, também militante do movimento negro, ex-vereador (1977-1983) e ex-deputado estadual (1983-1987). Este último é tio de André Cintra.

 

HISTÓRICO II – O local escolhido para o tributo foi uma área pública de 1.495 m2 na Estrada do Sabão, na Brasilândia. “Era um local sem nome, um imenso canteiro central. Os moradores conheciam aqui como a ‘Pracinha do Sabão’ – e há quem ainda use essa referência”, relatou o jornalista. O coletivo que conseguiu nomear a praça ficou responsável por levantar a trajetória de Luiza Mahin. Pouco se sabia da mulher a quem se atribui uma corajosa e ativa participação em rebeliões como a Revolta dos Malês (1835) e a Sabinada (1837-1838), deflagradas na Bahia. Até hoje, o único documento conhecido sobre Luiza é o texto autobiográfico que seu filho, o abolicionista Luis Gama (1830-1882), escreveu.

 

Vista geral da praça Luiza Mahin.Vista geral da praça Luiza Mahin.

 

CARTA – Em 25 de Julho de 1880, numa carta redigida a pedido do jornalista Lúcio de Mendonça, Luis Gama descreve a mãe como “africana livre”, “pagã”, “baixa de estatura, magra, bonita”, “muito altiva, geniosa, insofrida e vingativa”. Conforme suas palavras, Luiza Mahin era “quitandeira, muito laboriosa, e mais de uma vez, na Bahia, foi presa como suspeita de envolver-se em planos de insurreições de escravos”. Com base nesse documento o projeto para transformar a “Pracinha do Sabão” em Praça Luiza Mahin foi elaborado. Coube a Benedito Cintra garantir a formalização da medida junto ao então prefeito, Mário Covas.

 

PROBLEMAS – A inclusão da Praça Luiza Mahin na Jornada do Patrimônio é parte de um plano do Fórum em Defesa da Zona Noroeste para recuperar a história do local, estimular sua ocupação pela comunidade e requalificar sua estrutura. “Assim como a história de Luiza Mahin volta e meia cai no esquecimento, a praça que leva seu nome não parou de ter altos e baixos”, resumiu André. “O histórico é de abandono, infelizmente”. Nos primeiros tempos ali se firmou como ponto de encontro e eventos. Mas diversos problemas atingiram a praça ao longo de seus 32 anos: pichações, vandalismo, furtos, tráfico de drogas, “fluxos” (“pancadões”) irregulares, entre outros. A zeladoria sempre deixou a desejar.

 

Outra vista geral da praça.Outra vista geral da praça.

 

REQUALIFICAÇÃO – Ao fim de sua palestra, André anunciou que a praça Luiza Mahin passará por um processo de requalificação. “Novembro será o mês da virada. No dia 11, haverá um mutirão envolvendo prefeitura e comunidade. Em 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, nós, do Fórum em Defesa da Zona Noroeste, vamos promover um evento de lazer e cidadania, em parceria com outras entidades”.  Até o final do ano, um parquinho infantil, com quatro equipamentos, deve ser construído na Praça Luiza Mahin.

 

SUGESTÕES – O público presente à palestra sugeriu outras ações, como a construção de um busto de Luiza Mahin. André defende que a Casa da Cultura Brasilândia passe a se chamar Casa Luis Gama, com foco na cultura afro-brasileira. “Numa distância de apenas 500 metros entre os dois pontos – a praça e a Casa de Cultura –, teríamos um corredor cultural. E ainda recolocaríamos Luiza Mahin e Luis Gama, mãe e filho, novamente próximos”.

 

Placa comemorativa da praça Luiza Mahin.Placa comemorativa da praça Luiza Mahin.

 

Minudências:
@ Em 6 de Março de 1985, o prefeito Mario Covas assinou o Decreto Municipal 20.723, que oficializou a Praça Luiza Mahin, a tempo de incluir sua inauguração nos festejos do Dia Internacional da Mulher. O batismo histórico ocorreu três dias depois, em 9 de março, um sábado, às 17 horas.
@ Para dar visibilidade nacional à iniciativa, o então deputado estadual Benedito Cintra articulou a vinda do Ilê Aiyê”, primeiro bloco carnavalesco afro de Salvador, para batizar a praça, no dia 09 de Março de 1985.
@ A Jornada do Patrimônio é promovida desde 2015 pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. A edição atual contou com mais de 400 atividades, concentradas no Centro Expandido de São Paulo. Foi a primeira vez que a Brasilândia, distrito mais negro e populoso da ZN, integrou a programação do evento.
@ André Cintra relaciona Luiza Mahin ao lado de outras heroínas brasileiras, como Anita Garibaldi e Maria Quitéria.
@ O jornalista prepara um livro ainda sem nome, que pretende recuperar a história da organização popular na região da Freguesia/ Brasilândia nos anos 70/ 80. “Como meu tio, Benedito Cintra, foi parlamentar nesse período e tinha reduto político na região, já tenho um ótimo ponto de partida”. Cintra pretende finalizá-lo no primeiro semestre de 2018.

 

Localização da praça na Estrada do Sabão, Brasilândia.Localização da praça na Estrada do Sabão, Brasilândia.

 

# Matéria com o apoio de Tecnolamp.

Postar comentário

0
  • Visitante - Jorge Luiz de Oliveira ('Saracura)

    Parabenizo ao André Cintra pela iniciativa , e toda a família Cintra .