Jardim Corisco, Tremembé – Janeiro/2017

      Ao longo dos seus 47,6 km de extensão as obras do Rodoanel Norte geram grande impacto ambiental e social, como seria inevitável em uma intervenção desse porte, atravessando enormes áreas verdes e regiões urbanas.  Dessa forma, já durante a sua execução, é fundamental buscar minimizar esses impactos, mas isso raramente acontece, como apontam moradores do Jardim Corisco, no Tremembé, localizado a 15 km do centro da cidade.



 Rua Tamon, Jardim Corisco, sem sinalização para pedestres.Rua Tamon, Jardim Corisco, sem sinalização para pedestres.

 

IMPACTOS – Daniele Barbosa é professora de escola pública e mora há 33 anos no Jardim Corisco, na rua Tamon,  que é cruzada em viadutos pela obra do Rodoanel Norte.  Sua casa está a 500 metros das pistas.  “A vida no bairro antes da chegada das obras era tranquila, mas com a saída de muitas casas a área ficou isolada, com muito barulho por conta das obras e caminhões que entram e saem durante o dia. Houve também impacto ambiental, animais silvestres e pássaros tiveram que migrar para não morrer, pois a área verde também foi devastada ao longo da obra”, afirmou a moradora.

 

Trecho sujeito a erosão.Trecho sujeito a erosão.  Buracos na rua Tamon. Buracos na rua Tamon.

 

DESCUIDOS – A obra completa é dividida em seis lotes.  O Jardim Corisco está no Lote 4, sob responsabilidade da empreiteira Acciona.  Segundo Daniele o barulho e o pó das obras incomodam os moradores.  Os buracos na rua, a falta de segurança adequada, a falta de calçadas e de  luz elétrica embaixo das pistas são outros descuidos que a obra tem mantido.  “Há um clima de pessimismo com os moradores que permanecem, muitos não acreditam nos benefícios dessa obra de grande impacto e acreditamos que, com a abertura das pistas para os carros, aumentará o barulho e a poluição”, considerou a professora, que também relatou carências na região: “Esperamos que políticas publicas percebam a região, pois não temos posto de saúde, apenas  uma escola municipal e um linha de ônibus para tantas pessoas”, relatou a moradora.

 A obra exige compensações proporcionais ao seu porte.A obra exige compensações proporcionais ao seu porte.

 

POLUIÇÃO – Francisco Florentino mora a apenas 150 m da obra.  Conselheiro participativo e também conselheiro do CADES Jaçanã/ Tremembé, Francisco considera que “os impactos na vizinhança, na qualidade do ar e água são diversos, sendo oriundos dos danos causados à vegetação local, aos córregos, fauna, mudanças no viário e ocupações de áreas induzidas pela obra”, afirmou.    Ele não visualiza uma situação melhor quando a obra for inaugurada, porque “aumentará consideravelmente o nível de ruído na região e volume de poluentes que serão dispersos pelo grande fluxo de veículos que irão circular pela via”, avaliou o conselheiro.

 

Sinalização precária.Sinalização precária.  Outro trecho sujeito a erosão. Outro trecho sujeito a erosão.

 

COMPENSAÇÕES – Morador há 17 anos do Jardim Corisco, Francisco Florentino, desde o anúncio da chegada da obra na região, tem se mostrado uma liderança comunitária atenta aos impactos, tanto colocando essa questão na pauta das reuniões do CPM-JT e do CADES-JT, quanto também protocolando ofícios. Recentemente, junto à prefeitura regional Jaçanã/ Tremembé, o conselheiro entrou com o TID 15862307, de 01/12/2016, pedindo a fiscalização da execução da obra e a limpeza do córrego assoreado por ela.   Para Francisco as compensações deveriam ser aplicadas na ampliação da área de vegetação arbórea, tratamento dos cursos d’água com recuperação dos córregos, investimentos na área de saúde e lazer para comunidade local.  Mas, pelo histórico das atitudes dos empreendedores, não há razão para ser otimista sobre isso.

 A obra atravessa áreas verdes de amortecimento, junto à Serra da Cantareira.A obra atravessa áreas verdes de amortecimento, junto à Serra da Cantareira.

 

CONSIDERAÇÕES DO PORTAL:  A relação ambiental entre a Serra da Cantareira e a cidade de São Paulo ficou terrivelmente prejudicada com a definição do trajeto e início das obras do Rodoanel Norte. Um colar de concreto está sendo colocado entre a mata da serra (leia-se Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo) e a mancha urbana com mais 11 milhões de pessoas.  Haverá uma coluna de fumaça e barulho interrompendo essa relação de prestação de serviços ambientais oferecidos pelo Parque Estadual da Cantareira. Só isso já exigiria dos empreendedores um grande esforço para compensar os impactos.  Mas some-se também os impactos locais causados na vida de milhares de pessoas que moram próximos à obra.  Onde estão essas compensações? A Secretaria Municipal de Verde e Meio Ambiente, e as cinco prefeituras regionais atravessadas pela obra, têm a obrigação de olhar para esse problema, e pressionar a DERSA e o governo estadual a compensar adequadamente tamanho impacto socioambiental causado à cidade.

  

Minudências:
@ A atual previsão de entrega do Rodoanel Norte é Março/2018.
@ Leia matéria recente, sobre o túnel desabado que está atrasando a obra em Guarulhos, AQUI.
@  Os 47,6 km do traçado do Rodoanel Norte atravessam os distritos do Jaraguá, Brasilândia, Cachoeirinha, Mandaqui e Tremembé na Zona Norte, além de grande área rural em Guarulhos e Arujá. 
@ Acompanhe o histórico da critica a essa obra no Blog do Rodoanel Norte, AQUI.

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  • Visitante - Daniele Barbosa

    Excelente Obrigada ao Portal!!!

  • Visitante - Bruna

    Eu também sou moradora do Jd. Corisco, e o que foi relatado sobre o bairro está corretíssimo! Já houve assaltos durante a noite, pessoas sendo assassinadas e tudo no trecho das fotos acima. Os moradores ficam reféns dessa situação e a DERSA e prefeitura nem ao menos se dá o trabalho de providenciar segurança e iluminação para o local, apenas uma vez houve seguranças no local, que foi quando roubaram as máquinas da obra e imediatamente eles providenciaram seguranças, mas assim que as máquinas foram retiradas pelos operários, ficamos a mercê e ao 'Deus dará'. Sem falar no asfalto totalmente prejudicado, buracos enormes, e quando eles 'jogam um cimento' e acham que está resolvido, mas que na verdade fica horrível, pois as pedras do concreto sobressaem, ficando ainda sim em situação precária.

  • Visitante - Soares

    O Governo do Estado (através da Dersa-e seus representantes) não respeitam nada ,muito menos a sociedade civil (participei enquanto representante do MDV em conjunto com várias entidades da sociedade civil organizada das "audiências Públicas para enganar a sociedade "(para ingles ver) e eles não respeitam nada (ficamos expostos ao grupo da Dersa (que vem sendo denunciado ,conforme as mídias eletrônicas e escritas por criar "facilidades e generosidades" para alguns grupos,a saber Trecho do Rodoanel Sul ,Trecho do Rodoanel Leste e a construção da jacupessego.Eles apresentam a formula mágica no EIA/RIMA(totalmente técnico e a favor do empreendedor ) que todos os impactos são "positivos" e quase não há impactos negativos(as mitigações compensatórias resolvem segundo eles).O que o trecho norte vem passando é o mesmo do outros trechos :Descaso com a população,danos ambientais nos corpos d'água,destruição de vias ,isolacionismos de comunidades ,danos a fauna e a flora e os gestores públicos ficam de "calças arriadas,beijando a mão do governador". Danos socioambientais irrecuperáveis principalmente ás área de proteção ambiental de de produção de água (Billings ,Taiaçupeba ,Guaio,Cantareira).O caso da Cantareira(trecho norte) foi denunciado a corte internacional de direitos humanos,mas a justiça só tem os olhos abertos para !vigiar e punir" pobres ,os ricos ,empresas ,políticos e demais grupos corporativos se fartam com as obras e a miséria da população ,com os danos socioambientais,com a falta de água,com a devastação da floresta ,coma extinção da fauna.Um dia desses o planeta se vinga !!!. Estamos com voces nesta luta .