Praça Sta Luiza de Marilac, Jardim Guançã – 26/Jul/2017
O Circoteatro Gelatina recebeu artistas e comunicadores para realizar uma atividade diferente. Ao invés de espetáculo, a reunião dos produtores culturais foi para realizar um escambo (troca de ideias) sobre a visibilidade da periferia através das mídias alternativas. O evento teve cerca de 20 pessoas e contou com a jornalista da Gisele Brito, da Rede de Jornalistas das Periferias, além de uma apresentação de freestyle de skate, de Vinicius Dantas.
NARRATIVAS – O escambo começou com a fala da jornalista Gisele. Ela explicou que as mídias alternativas sempre existiram como forma de contrapor as narrativas da grande imprensa, sendo usada por sindicatos e movimentos sociais. Porém, mesmo com as mídias alternativas, a periferia nunca teve suas histórias retratadas, exceto para mostrar a precariedade social e a criminalidade. Essas narrativas negativas resultaram na criminalização da periferia, agravando ainda mais o genocídio da juventude negra, pobre e periférica, como a Gisele retrata: “quando alguém é morto na periferia, as pessoas apóiam, falam ‘é bandido mesmo’”.
NOVAS MÍDIAS – Atualmente, começaram a surgir mídias alternativas que mostram narrativas dos próprios moradores da periferia. Essa mudança, segundo Gisele, ajuda a transformar o olhar sobre a periferia: “a narrativa da precariedade passa a ser a narrativa de potência”, ou seja, mostrando as qualidades da periferia, como os eventos comunitários, a cultura regional, as ações sociais, entre outros.
“PASSO PARA TRÁS” - Outro assunto marcante no escambo foi como as novas ferramentas de comunicação da internet ajudaram na formação das novas mídias alternativas. Porém, mesmo com a web dando maior visibilidade, o "impacto" da informação ainda não é muito efetivo. Uma das falas foi que uma comunicação "mais afetiva" resultaria num impacto maior, sendo identificado no contato direto com o morador da comunidade, como era feito antes do surgimento da internet, por meio dos lambes nos postes, folhetos entregue em mãos ou no próprio diálogo "olho-no-olho". Por isso, Gisele resume: "Talvez um passo para frente seja dar um passo para trás".
RÁDIOS COMUNITÁRIAS –. Os participantes aproveitaram a presença do radialista Daniel, da Rádio Comunitária Cantareira, para tirar dúvidas sobre o funcionamento das rádios comunitárias. Segundo Daniel, a rádio resiste com baixo orçamento, pois havia uma proibição de anunciar nas rádios comunitárias: "Não podia falar sobre endereços, preços, produtos e promoção. Hoje pode falar produtos e endereços". Além disso, a freqüência das rádios comunitárias sempre é difícil de sintonizar, e quando conseguem, sofrem interferências de rádios piratas, por isso o próprio Daniel comenta: "preferia ser pirata".
PROJETO – O Escambo é uma extensão do projeto Cultura Comunica, da Casa do Meio do Mundo. O projeto foi aprovado pelo edital do Fomento a Cultura da Periferia, da Prefeitura Municipal, e acontece todo Sábado com formação sobre comunicação para adolescentes e jovens da ZN, na Escola Estadual Vitor dos Santos Cunha.
Minudências:
@ A Unidiversidade de Saberes é um projeto criado pelo Movimento Cultural das Periferias, com o objetivo de promover formações para as quatro regiões da cidade.
@ Os encontros acontecem por meio dos coletivos Casa do Meio do Mundo (Zona Norte), Quilombaque (Zona Noroeste), Fórum de Cultura da Zona Leste (Zona Leste) e Brechoteca Biblioteca Popular (Zona Sul), com os temas Comunicação e cultura; Território e Política; Economia Periférica; e Lutas Populares e Direitos Humanos, respectivamente.
@ Os Escambos da Zona Norte acontecem toda a última quarta-feira do mês na Escola Estadual Vitor dos Santos Cunha, podendo ser em outro local caso a escola tenha problemas com a agenda.
Texto e fotos: Lucas Antonio
# Matéria com apoio de Tecnolamp
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