Auditório do Estadão – 13/Dez/2016

      Os Fóruns Estadão Sustentabilidade abriram espaço para um debate de máxima prioridade nos tempos atuais: a situação do acesso à água potável no Brasil.  e a sua importância para a vida.  Conduzido pelo jornalista Renato Jakitas, do Estadão, o evento abriu com as considerações de Vicente Andreu, presidente da Agência Nacional de Águas - ANA.  Em seguida dois painéis, Como Salvar Nossas Reservas e A Seca que nos Ameaça, deram a palavra para representantes da sociedade civil, empresas concessionárias de serviços de abastecimento e representante da iniciativa privada.  Segue uma breve síntese do apresentado por cada um.

 

Painel 1 – Marussia (Aliança), Malu (SOS Mata Atlântica), Samuel (TNC) e Renato Jakitas (Estadão)Painel 1 – Marussia (Aliança), Malu (SOS Mata Atlântica), Samuel (TNC) e Renato Jakitas (Estadão)

 

VICENTE ANDREU – presidente da Agência Naciona de Águas – ANA
Afirmou que há um aprendizado na crise hídrica de São Paulo e de outras regiões e que não se pode perder a oportunidade de aprender com elas.  Depois da escassez em áreas tradicionalmente secas, começamos a vislumbrar seca nas cidades grandes.  Citou o exemplo do Ceará, que avançou na gestão de recursos hídricos, mas dada a magnitude da seca atual, continua em estado de risco. Para ele isso mostra a fragilidade dos recursos hídricos frente às mudanças climáticas.  Afirmou que estamos fragilizados frente a eventos climáticos, e deu como exemplo o Acre, que em Março/2016 teve a maior cheia, e em Junho/2016 teve a maior seca.   Outro exemplo: o sistema Cantareira em 2010 estava lotado, em 2014 estava com – 25% de capacidade.  Andreu relatou hoje um consumo médio de 320 litros/habitante/dia.   Na crise baixou para 220 litros/habitante/dia, um índice muito elevado, o que mostra a necessidade de mudança do padrão de consumo.  Andreu afirmou que é preciso mudar o padrão de consumo também na agricultura, e que conviver com os indicadores de perda de água nos meios urbanos é um crime contra a sociedade.

 

Público presente ao encontroPúblico presente ao encontro

 

SAMUEL BARRÊTO – gerente nacional de água da The Nature Conservancy Brasil
A ONU neste ano lançou um relatório integrando Água e Emprego, pois 2 bilhões de pessoas no mundo dependem da água para ter renda.  Lembrou que o sistema Cantareira está com 45% de capacidade, fazendo parecer que a questão da crise hídrica está resolvida, mas a questão não está resolvida. A infraestrutura verde não faz parte da equação dos gestores envolvidos.  Os mananciais perderam 70% de sua cobertura vegetal.  Proteger e recuperar os mananciais é fundamental, gerando a infraestrutura verde, que significa conservação e restauração de áreas criticas, dando segurança hídrica pelo lado da oferta de água. Mostrou que intervir em 2,9% da área total dos sistemas Cantareira e Alto Tietê reduz o aporte de sedimentos nos sistemas em até 50%. Ao mesmo tempo se deve buscar uma gestão sustentável da água  em indústrias e na agropecuária, para ter segurança hídrica pelo lado da demanda. Para reforçar a segurança hídrica nas cidades propôs a proteção das fontes de água, através de financiamento para proteção de bacias hidrográficas, e mobilizando os cidadão para um uso mais consciente da água.  Citou o exemplo da cidade de Extrema, que tem crescimento econômico com conservação ambiental.

 

MALU RIBEIRO – coordenadora da Rede de Águas da Fundação SOS Mata Atlântica
Afirmou que, se se quiser ver a saúde de uma comunidade, deve-se olhar para os rios que atravessam aquela região.  Por isso estamos tão doentes.  Crescemos com a idéia de abundância, mas os maus usos levaram à situação atual.  A água ainda não entrou no radar dos governantes.  Os licenciamentos ambientais, as audiências públicas, são o momento da sociedade discutir o que quer para o seu futuro.  Falar de água é impossível sem falar de licenciamento ambiental.  Olha-se a água como extensão da tomada e extensão da descarga.  Malu apontou a distorção que é  as pessoas protestarem intensamente com a interrupção do serviço de What´sapp, mas não ter a mesma veemência para discutir falta de águia.  Ela propõe um novo olhar, voltar a chamar a água de água, e não de recurso hídrico, observar a água, perceber o que se está perdendo, para poder começar a recuperação.   Lembrou a importância dos parques lineares nas cidades.  Pediu a recuperação dos rios de classe 4, totalmente mortos, que não mais funcionariam apenas para a diluição de esgoto.

 

MARUSSIA WHATELY – coordenadora da Aliança pela Água
Considerou que a sociedade está comprometendo a capacidade dos ciclos naturais renovarem a oferta de água, por nossos usos e pelas mudanças climáticas.  Lembrou que, se a crise hídrica de abastecimento passou, a crise hídrica propriamente continua, e pediu uma nova cultura para a água.  Marussia apresentou os principais pensamentos norteadores da ação da Aliança pela Água: 1 - Água não é mercadoria, mas um bem essencial à vida, cujo acesso é um direito humano. 2 - Todos os níveis de governo têm responsabilidade sobre a água e devem estar a serviço da população.  3 - Manutenção dos ecossistemas responsáveis pela renovação da água doce. A grande discussão que se coloca hoje é: Quem cuida da água? União, estados e municípios devem compor a governança da água potável, fazendo a interação do meio ambiente com o desenvolvimento urbano, com ações sobre o saneamento e sobre o acesso á informação. Trazer os vereadores e prefeitos para a questão e começar a discutir a questão da segurança hídrica a nível local.  

 

Percy (CNI), Claudia (COGECE), Ângelo José (DNOCS) e Renato Jakitas (Estadão).Percy (CNI), Claudia (COGECE), Ângelo José (DNOCS) e Renato Jakitas (Estadão).

 

ANGELO JOSÉ DE NEGREIROS GUERRA – diretor geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas – DNOCS
O DNOCS é um departamento do Ministério da Integração Nacional que aplica programas contra a seca na região do semiárido do Nordeste.  Ângelo José apresentou áreas suscetíveis à desertificação e relatou que as 327 barragens da região hoje tem uma capacidade ocupada de apenas 15%.  Mostrou que estão sendo efetivados 37 projetos de irrigação pública, 1419 poços públicos profundos e 75 mil cisternas implantadas. Deu destaque para as URADs - unidades de recuperação de áreas degradadas, que são ações de pequeno porte, de baixo custo, mas com resultados ambientais envolvendo a mão de obra da própria comunidade.S

 

CLAUDIA CAIXETA – diretora de mercado da Companhia de Água e Esgoto do Ceará – CAGECE
A diretora apresentou a gravíssima situação de escassez hídrica no Ceará, que nos últimos 5 anos vem mostrando um volume decrescente de  água disponível, chegando ao momento atual em que o volume armazenado no total das bacias hidrográficas é de apenas 7,55% da capacidade.  Ela relatou a ação do Grupo de Contingência, que faz reuniões semanais para propor medidas emergenciais de segurança hídrica. Um exemplo são as adutoras de montagem rápida (AMR), que em uma "operação de guerra" está atualmente com 375 km de conexões, a um orçamento de R$ 253 milhões.  Outra ação são os "poços de Jacó", que vão buscar a água remanescente no fundo dos rios secos, além de campanhas educativas e um plano de comunicação.

 

PERCY SOARES NETO – coordenador da Rede de Recursos hídricos da Confederação Nacional da Indústria – CNI
Relatou que a indústria tem 500 representantes em comitês de bacias, que são um lugar para construir consensos.  Para a indústria informação é essencial para entender o seu nível de vulnerabilidade hídrica.  Isso é fundamental para a indústria tomar suas decisões, porque o empreendedor precisa planejar.  Pediu atenção à questão da sustentabilidade das companhias prestadoras de serviços de saneamento, em que se precisa associar o interesse do estado a uma oportunidade de negócios,  tudo a ser feito com uma regulação atenta.

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