Vila Marieta – Outubro/2016.

      Pedras enormes afloram por toda a serra da Cantareira. Isso todos sabem, por ver as rochas, ou por lembrar de tantas pedreiras existentes aqui desde o século 19 e ao longo do século 20. O que não se podia imaginar é que um dia a tranquilidade da serra fosse destruída pela passagem de uma autoestrada com oito pistas de rodagem. Para piorar, acontecessem explosões todos os dias, afetando fauna, flora e também os moradores da região.

 

Painel anuncia o horário das explosões no alto da Vila Marieta.Painel anuncia o horário das explosões no alto da Vila Marieta.

 

IMPACTOS – Moradora do Tremembé desde a adolescência, Raquel (*) é uma pessoa indignada com a passagem do Rodoanel Norte, e com os enormes impactos que sofre. “Foi em Julho de 2013, com a passagem dos caminhões para a obra, que iniciou o impacto físico. Fiquei um ano sem abrir a janela, devido à névoa branca que sobe, deixando os olhos e a garganta arranhando”, conta Raquel. O impacto emocional tinha começado muito antes, com o anúncio da obra na face Sul da Serra da Cantareira, a apenas 12 km do marco zero da cidade.

 

Túnel saindo da serra junto à Vila Rosa.Túnel saindo da serra junto à Vila Rosa.

 

INDIFERENÇA – “Por que o Rodoanel está aí? A primeira causa é a indiferença da população. O povo brasileiro é o povo com menos senso comunitário do mundo. Isso era uma impressão, e agora constatei na realidade”, afirmou Raquel. É fato que a luta contra o Rodoanel Norte passando entre a mancha urbana e a serra da Cantareira não conseguiu empolgar muita gente. A mobilização ficou restrita a um grupo de militantes que, há cerca de quatro anos, foi engrossado pelas pessoas preocupadas com sua moradia. A questão do impacto ambiental foi sustentada por muito poucos, que não conseguiu impedir a obra de começar, em 12/03/2013.

 

A foto do Ecoponto revelou o Rodaonel passando no Jardim Antarctica.A foto do Ecoponto revelou o Rodaonel passando no Jardim Antarctica.

 

2018 – Foi com surpresa que o portal, em Setembro/2016, ao receber uma foto da assessoria de imprensa da prefeitura sobre a inauguração do Ecoponto do Jardim Antarctica, percebeu na imagem o adiantado da obra do Rodoanel naquele bairro. O viaduto já se destacava ao fundo da paisagem. As estruturas já estão colocadas, e o trecho Norte, que terá quatro acessos: pela av. Raimundo Pereira de Magalhães, pela rodovia Fernão Dias, pelo acesso ao Aeroporto de Guarulhos e pela rodovia Dutra, tem previsão de finalização em 2018.

 

Vista da obra a partir da Vila Rosa, ao lado do E. E. Ruy Barbosa.Vista da obra a partir da Vila Rosa, ao lado do E. E. Ruy Barbosa.

 

EXPLOSÃO – No dia 08/10, exatamente às 12h30, a reportagem do portal caminhava pelo alto da rua Mateus Garcia, na Vila Marieta, quando foi surpreendida por uma explosão que causou susto e momentânea desorientação. Foi a comprovação explícita da incomodidade causada pela obra. Toda uma região outrora refúgio de paz e tranquilidade, como no Clube dos Funcionários da Sabesp situado a 500 metros desse ponto, nunca mais será a mesma. Uma nova avenida marginal, com oito pistas de rolamento, trará carros e caminhões para o pé da serra da Cantareira, o pulmão verde da cidade. Como disse a moradora Raquel: “É um patrimônio inestimável que se vai, um tapa na UNESCO, que decretou toda essa região como a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo.

 

Minudências:
@ Mais detalhes sobre os muitos capítulos da luta contra o Rodoanel Norte estão no Blog do Rodoanel Norte, AQUI.
@ Leia a postagem no Blog do Rodoanel Norte anunciando o início das obras AQUI.
@ Tremembé – Terra de Águas e Pedra, era o nome da palestra proferida em escolas e em clubes de serviço, pelo editor do portal ZNnaLinha, e autor de dois livros sobre o Tremembé.
@ A pedreira mais conhecida do Tremembé ficava nos fundos da Vila Albertina. Mas havia enormes pedreiras também junto ao atual Clube de Funcionários da Sabesp, na Vila Rosa, e onde está o pátio de ônibus da Sambaíba, na rua Maria Amália Lopes de Azevedo.
@ O saudoso engenheiro Adalberto Jezierski se dizia pasmo com os túneis propostos para atravessar a serra: “Nunca vi túneis que não atravessam uma serra, e sim seguem perpendicularmente a ela”.
@ Segundo um vigilante do condomínio de alto padrão do Jardim Ibiratiba, na Pedra Branca, duas casas do condomínio já foram desocupadas, pela proximidade com a pista do Rodoanel.
@ (*) O nome Raquel é fictício, como preferiu a moradora do Tremembé, fragilizada por toda a situação descrita.

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