Câmara Municipal – 19/Mai/2015

      Desde 1500 os índios nativos lutam para reconquistar seu espaço na Terra Brasilis.  Passados 515 anos a questão indígena continua acesa, pois o seu exíguo espaço de sobrevivência está ameaçado de desaparecer de vez.  A Câmara Municipal de São Paulo recebeu um evento para discutir a demarcação das terras indígenas na cidade de São Paulo, tema que está na mesa do Ministério da Justiça, até porque a aldeia guarani do Jaraguá está ameaçada por uma ação de reintegração de posse.

 

Momento do encontro na Câmara Municipal.Momento do encontro na Câmara Municipal.

FORA DO PARQUE – A sala Prestes Maia da Câmara lotou para discutir o tema, proposto pelo vereador Toninho Vespoli (PSOL), com a presença da vereadora Juliana Cardoso (PT).  Na mesa também David Martim, liderança da Aldeia Jaraguá; Jerá, liderança da aldeia Parelheiros; Maria Inês Ladeira, antropóloga, e Eduardo Suplicy, secretário municipal de Direitos Humanos. Vespoli relatou uma visita à aldeia guarani no Jaraguá, e afirmou que está mantendo um diálogo com a administração do Parque Estadual do Jaraguá, inclusive com a intermediação do vereador Covas Neto (do mesmo partido do governo), pois os índios não estão podendo entrar na área do parque sequer para vender os seus artesanatos.  

SEGURANÇA –  A índia Jerá, liderança da tribo de Parelheiros, proporciona aos curumins da tribo uma educação bilíngue, e ajuda os caciques a entender se o que vem da cidade é bom ou não para eles.  Ela apontou o desconhecimento dos moradores sobre a situação dos índios: “Muitas pessoas que moram perto não sabem que tem indígena lá”, contou.  A situação tem se agravado nos últimos anos: “Em 1985 a gente comia mandioca, milho, amendoim, peixe, a represa era transparente, hoje não”, explicou Jerá, para quem a luta dos índios pela terra é uma segurança não só para os índios, mas também para toda a população, ao proteger as terras e a natureza.

FILHOS – O índio David Martim, liderança da tribo do Jaraguá, enfatizou que os índios já viviam aqui antes de 1500, e que sempre cederam as terras para os conquistadores. Mesmo assim, quando chegam ao ponto de ter apenas 1,7 hectares para viver, são chamados de invasores ao pleitear a demarcação das terras.  “Isso é uma inversão”, disse David Martim.  “A terra é a gente, a gente nasce e vive da terra, a gente cuida da terra como dos nossos filhos”, afirmou.

David Martim, liderança da tribo Jaraguá.David Martim, liderança da tribo Jaraguá. Jerá, liderança da tribo de Parelheiros.Jerá, liderança da tribo de Parelheiros.

DISPUTA JUDICIAL – Eduardo Suplicy, secretário municipal dos Direitos Humanos, sintetizou a atual situação da tribo Jaraguá, ao relatar que conhece Tito Costa, ex-deputado estadual, que cobra a reintegração de posse de uma terra ocupada pelos índios, lindeira à da área original da tribo, que é de apenas 1,7 hectare.  A ocupação dessa área maior foi reconhecida pela FUNAI, porém na Justiça Tito Costa conseguiu a reintegração de posse.  Essa decisão judicial foi suspensa a pedido do Supremo Tribunal Federal, mas pode ser revogada a qualquer momento.  Suplicy informou que as partes estão sendo chamada ao entendimento. 

FUTURO – Para a antropóloga Maria Inês Ladeira, na década de 1980 teve início a tentativa de regularizar as áreas indígenas na capital, e isso gerou conflitos judiciais.  Para ela os Guaranis não estão reivindicando todas as terras que teriam direito, mas apenas o que é imprescindível.  “A terra é fator determinantes para que o povo Guarani continue existindo.  Demarcar terras indígenas é pensar no futuro”, afirmou a antropóloga.

Minudências:
@ As tribos no Jaraguá são Tekoa Itakupé, Tekoa Pyau e Tekoa Ytu.  As tribos de Parelheiros são Tenondé Porá e Krukutu.
@ Foi bastante criticado o fato do Ministro da Justiça José Eduardo Martins Cardoso não ter recebido os índios guaranis em uma audiência em Brasília.  “Me empenharei para que o ministro da Justiça receba David Martim e ouça a sua história e do povo Guarani”, afirmou o secretário Suplicy.
@ Segundo o índio David Martim, a tribo Jaraguá é a menor terra indígena do Brasil.
@ Para a liderança indígena o artigo 231 da Constituição Federal é desrespeitado, pois ele diz: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.

Fotos: Eber Biella

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