Fábrica de Cultura Jaçanã – 25/mar/2017

      A primeira edição do projeto Cultura de Fibra na Fábrica de Cultura Jaçanã celebrou extemporaneamente o Dia Internacional da Mulher e fez uma homenagem a nove mulheres da comunidade do Jaçanã. Também teve a apresentação do documentário Nós, Carolinas, do coletivo Nós Mulheres da Periferia. Ao final todas foram presenteadas com um artesanato produzido pela artista Cleide Toledo.

 

Da esq. para dir.: Sandra, Gisele, Luciane, Viviane, Raquel, Neuza, Rosangela, Dora e Aline.Da esq. para dir.: Sandra, Gisele, Luciane, Viviane, Raquel, Neuza, Rosangela, Dora e Aline.

 

HOMENAGEADAS I - As mulheres homenageadas pelo Cultura de Fibra fizeram breves comentários sobre seu projeto social e a sua trajetória de vida:  Aline: Jornalista e co-fundadora do Nós, Mulheres da Periferia, contou alguns detalhes sobre a produção do documentário "Nós, Carolinas" e da formação do coletivo Nós, Mulheres da Periferia; Viviane Abrahão: artista, cantora e idealizadora do projeto O Canto da Mulher Negra, falou da falta de reconhecimento da mulher no cenário artístico e da dificuldade dela se manter na música, enfrentando o preconceito e uma jornada dupla, o trabalho formal e o trabalho de casa; Sandra: professora, escritora, coordenadora da Escola Estadual Professor Fabio Fanucchi e idealizadora do coletivo Construtores de História. Ela destacou a importância em reunir mulheres protagonistas do território, dando ênfase ao trabalho delas ao invés da beleza: "Antigamente as mulheres estavam no palco para disputar concurso de beleza, hoje estamos aqui por causa das nossas ideias";

 

Apresentação do documentário Nós, Carolinas.Apresentação do documentário Nós, Carolinas.

 

HOMENAGEADAS IIRosangela Escridelli: articuladora comunitária e ex-diretora do CIC Norte, relatou a importância do trabalho de articulação na comunidade e destacou a importância de cada morador no desenvolvimento do bairro; Gisele: empreendedora, explicou sobre o que a motivou a abrir um negócio dentro da comunidade e da satisfação pessoal em trabalhar como responsável pelo empreendimento; Luciane: idealizadora do África Plus Size Brasil, disse que o seu projeto é uma forma de combater a “gordofobia” e o racismo, além de emponderar e aumentar a autoestima da mulher negra e periférica: "O mercado tem que reconhecer a gente,  valorizar a mulher preta e gorda".

 

HOMENAGEADAS IIINeuza Cardoso: socióloga e agente cultural, destacou o bairro do Jaçanã como local de muitos talentos, mas comentou sobre a falta de oportunidades dos artistas da região, responsabilizando o poder público e os próprios artistas que não se mobilizam em busca dos recursos públicos;   Raquel: professora de matemática e idealizadora dos projetos Contação de História, Recreio Pedagógico e Show de Talentos da Escola Estadual Felício Tonetti, contou que entre os pais que trabalham, é sempre a mãe que "cria tempo" para participar da vida estudantil dos filhos. Ainda deu destaque sobre o fechamento da escola no dia 15 de Março para participar da Greve Nacional contra a Reforma da Previdência: "O fechamento da escola não era para não dar aula, mas sim para lutar contra a perda dos nossos direitos". E por fim a Doralice (Dora): psicóloga, trabalha no Programa Recomeço Família no CIC Norte e cantora no coletivo Quatro Vozes, iniciou seu depoimento cantando e depois explicou que é uma forma de tirar a timidez. Ela contou que nos seus trabalhos com a família e crianças em situação de rua ela aborda sobre a diversidade de gênero e racial: "É muito importante a gente olhar e se reconhecer".

 

Fala da participante Neuza Maria.Fala da participante Neuza Maria. Grace Miranda, gestora da Fabrica de Cultura e idealizadora da açãoGrace Miranda, gestora da Fabrica de Cultura e idealizadora da ação

 

INTERVENÇÕES – Grace, gestora da Fábrica, abriu um momento de perguntas do público. A primeira foi da Tatiana que perguntou para Luciane sobre a resistência do mundo da moda contra seu projeto África Plus Size. Luciane respondeu que a moda Plus Size ainda tinha um recorte elitista, com roupas caras e modelos brancas e loiras, então o projeto era uma forma de tornar a mulher preta e periférica representada.  Tiago questionou como foi a infância e a vida escolar das mulheres negras. Quase todas responderam que na escola elas eram excluídas ou perseguidas sem saber o motivo para isso: "Quase todas as aulas o professor olhava meu caderno" lembrou Dora. Só com o tempo elas descobriram que a perseguição era motivada por conta delas serem negras. Como resposta, muitas buscaram saídas contra o preconceito escolar, um exemplo foi a Luciane, que encontrou no boxe um caminho.

 

RACISMO – Uma das falas mais chamativas foi da Neusa Maria, antiga militante do movimento negro, que pontuou sobre a cultura do racismo velado no Brasil: "Durante a ditadura militar existia uma filosofia de Estado que pregava sobre a falsa democracia racial, dando a entender que no Brasil não existia racismo". Ela afirmou: "O Brasil é o país mais racista do mundo" e continuou seu depoimento dizendo que não existem negros em cargos importantes por conta deste racismo velado.  A última intervenção foi da artista Salete que resolveu cantar a cação "Se todos fossem iguais a você", de Tom Jobim, em homenagem as mulheres presentes.

 

CULTURA DE FIBRA – O evento é uma homenagem para as mulheres da região e uma forma de valorizá-las pelo trabalho que elas realizam no território. Segundo Grace, gestora da Fábrica de Cultura, "a concepção surgiu de desmitificar um pouco essa coisa do mês de Março, em memória da mulher, e valorizar as mulheres do entorno".  Para a Grace, a ideia de reunir as mulheres do território também é uma forma de fortalecê-las no trabalho social: “As mulheres são representantes e as histórias delas se cruzam, e uma dessas propostas do evento, além de trocar conhecimento, que elas estavam fazendo agora no final, parceria seja de trabalho seja de tomar café uma na outra e contar sobre a vida”.

 

Entrega dos presentes para as homenageadas.Entrega dos presentes para as homenageadas.

 

Minudências:
@ A Fábrica de Cultura Jaçanã oferece cursos de Ballet, Canto infantil e Adulto, Capoeira, Circo, Cordas, Dança de Salão, Dança Urbana, DJ, Festas e Danças e Brincadeiras do Brasil, Grafite, Iniciação ao Circo, Iniciação Musical, Iniciação Teatral, Introdução artística ao desenho e ilustração, Literatura e periferia, Memórias do Bairro, Multimeios, Percussão, Prática de Conjunto e Improvisação, Projeto espetáculo, Sopros, Teatro, Voz e violão e Zumba@ Ao todo são dez Fábricas de Cultura espalhadas pela cidade de São Paulo sendo administradas por duas Organizações Sociais, a Poeisis e a Catavento.
@ Acompanhe e saiba os horários da Fábrica de Cultura Jaçanã AQUI.
@ O coletivo Nós, Mulheres da Periferia é formado por sete mulheres que vivem nas periferias da cidade de São Paulo.
@ O documentário Nós, Carolinas conta história de quatro mulheres dos quatro quantos da cidade, sendo Jova Rural (Zona Norte), Jardim Ângela (Zona Sul), Guaianazes (Zona Leste) e Perus (Noroeste).

Texto e Fotos: Lucas Antonio

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